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Ilustração de Ursula "SulaMoon" Dorada para a Blizzard Entretainment (2017) - Foto de arquivo pessoal de Ursula |
Atualmente, os jogadores não querem “apenas” uma boa jogabilidade, um bom jogo precisa ter uma história interessante com diversidade de personagens. Isso acontece porque, infelizmente, a maioria dos jogos colocam os personagens masculinos como os salvadores fortes e as personagens femininas com as donzelas a serem resgatadas ou hipersexualizadas. Sem citar a representatividade racial e de gênero que ainda é muito ausente ou quando tem são em personagens pequenos, estereotipados ou vilanescos. A ilustradora, Ursula “Sulamoon” Dorada, faz parte da equipe de profissionais que desenham artes para as desenvolvedoras de jogos Blizzard Entertainment e Riot Games, ela explica que quanto mais ela tirar o sexo/gênero do personagem melhor, como skins andrógenas, assim, enfatizando suas habilidades. “Quando eles (diretores de arte) me passam uma orc mulher forte para desenhar, eu tento o máximo possível não deixá-la delicada, eu não dou ênfase no feminino, ela é só uma orc. Então, eu exploro o máximo possível do que faz de um orc um personagem muito forte.”
Já a ilustradora, Ernanda Souza, que integra a equipe de ilustradores da Wizard Of The Coast, relata que uma personagem até pode ter traços sensuais desde que seja parte da personalidade dela e da história e não apenas para reforçar o machismo já existente. “Eu não me importo que tenha mulheres sensuais nos jogos desde faça sentido ela ser assim, se a personagens tem uma personalidade e uma história que faça sentido, e não apenas porque querem que sejam.” Existem mulheres muito sensuais que precisam ser representadas, porém elas não são as únicas. Há inúmeros jogos que utilizam personagens femininas apenas como objeto sexual da história, ou elas são personagens principais, como em todos os jogos da franquia Tomb Raider em que a Lara Croft (protagonista) tem o corpo hipersexualizado e possui roupas pequenas enquanto os homens da história estão cobertos por roupas apropriadas para desbravar as selvas. No caso desse jogo, os seios exagerados foi irresponsabilidade de alguns desenvolvedores que resolveram "brincar com a personagem" e exageraram no design, quando salvaram o game não corrigiram, assim, lançando para os jogadores com o erro que marcou a personagem até os dias atuais.
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Ilustração de Ursula "SulaMoon" Dorada - Foto de arquivo pessoal de Ursula |
Porém, muitos jogos não possuem esse mesmo "erro", sendo de forma proposital a colocação da mulher para satisfazer o público masculino, como em Street Fighter, Mortal Kombat, Onechanbara Z2: Chaos, entre outros. A representatividade feminina não é a única que fica a desejar nos games, personagens negros com relevância também podem ser contados nos dedos. Isso porque, infelizmente, os personagens negros, latinos e indígenas geralmente são utilizados apenas como coadjuvantes ou como vilões nos games.
Para ter uma melhor representatividade nos games é necessário ter diversidade dentro da própria equipe que os desenvolve, mulheres, negros, latinos, indígenas, gays, lésbicas, trassexuais, entre muitas outras pessoas de etnias, gêneros e estilos diferentes. No caso das ilustrações ainda há o estereótipo de que mulheres são melhores para desenhos mais delicados e homens sabem desenhar ilustrações fortes e marcantes, mito que pode ser rapidamente quebrado quando se observa as artes de incríveis ilustradoras como a Giselle Almeida, Amanda Duarte, Caroline Gariba, Ernanda Souza, entre muitos outros artistas. Ursula Dorada enfatiza como as pessoas reagem quando veem que ela tem um estilo próprio de desenho que não tem traços finos e delicados. “Eu trabalho com o estilo que eu quero, fazendo exatamente o que eu quero, eu tenho uma relação muito boa com meus diretores de artes. Mas quando você lida com o público você escuta coisas do tipo: 'Nossa! Mas a sua arte não parece arte de mulher!' Que diabos é arte de mulher? Eu nunca fui de desenhar coisas fofinhas, eu sou uma artista com técnica como qualquer outro artista, eu não sou obrigada a gostar de uma temática específica por conta do meu gênero. E isso é uma coisa que às vezes ainda pega hoje em dia.”
A pro player de CS:GO do time Black Dragons, Giovanna “Yungh” Mataveli não gosta nem um pouco das personagens femininas serem hipersexualizadas nos jogos e por essas mesmas skins terem um nível de dano menor que os avatares masculinos. Porém, ela vê as personagens femininas atuais como um ponto positivo para começar a mostrar a participação das mulheres no games. “Só de começar a ter a representatividade para que as pessoas saibam que as mulheres estão aqui (no esporte eletrônico) já é alguma coisa.”
Por isso, a representatividade nos jogos e a diversidade na equipe de trabalho é essencial para ter um jogo que realmente atinja e represente o público que joga e não apenas satisfaça uma parte que monopoliza o cenário. Assim, permitindo que mais pessoas conheça os jogos e participe disseminando a diversão e felicidade para todos.
Quer conferir algumas ilustrações de games? Dê uma olhada nas imagem abaixo e admire o trabalho das ilustradoras Giselle Almeida, Ursula Dorada e Ernanda Souza.
Imagens Cedidas pelas ilustradoras: Ursula Dorada, Ernanda Souza e Giselle Almeida de Camila Couto
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